Panorama Profissional
DOI:
https://doi.org/10.14295/transportes.v15i1.41Resumo
O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas é um órgão criado em 1988 pelas Nações Unidas e pela Organização Mundial de Meteorologia. Sua sigla – IPCC – foi muito divulgada recentemente por ocasião do Prêmio Nobel da Paz 2007, quando o Painel foi laureado com este prêmio em conjunto com o ex-Vice-Presidente americano Al Gore. O objetivo do IPCC é compilar dados recentes e de relevância científica a respeito das mudanças climáticas, bem como informações técnicas e de natureza sócio-econômica.
Assim sendo, os relatórios do IPCC não têm conotação política, mas científica. Eles são publicados em intervalos regulares, sumarizando o que há de mais recente em termos de conhecimento e projeções acerca do tema mudanças climáticas. O primeiro relatório data de 1990 e foi decisivo para a criação da Convenção do Clima na Conferência Rio 92. Os relatórios mais recentes ainda são a maior fonte de informação para as negociações da Convenção do Clima.
O quarto relatório do IPCC, divulgado no ano de 2007, foi dividido em 3 grupos de trabalho (GT). O GT I trata da ciência do clima, ou seja, composição da atmosfera, bioquímica, modelos meteorológicos, entre outras questões. O GT II detalha a vulnerabilidade dos ecossistemas, assim como as medidas de adaptação dos principais setores e regiões. O GT III analisa as opções de mitigação, avaliando estratégias de médio e longo prazo para os diferentes níveis de estabilização de gases de efeito estufa na atmosfera. Para escrever o relatório são selecionados 450 cientistas do mundo todo, envolvendo mais de 130 países. Há ainda a colaboração de 800 autores contribuintes (produzindo textos sobre tópicos específicos) e cerca de 2500 revisores científicos.
No relatório de mitigação (GT III), a divisão dos capítulos se dá em função dos setores com as maiores contribuições para as emissões de gases de efeito estufa (GEE). Os setores tratados são: energia, transportes, indústria, residencial & comercial, agricultura, floresta e resíduos.
O setor de transportes deve ser destacado, pois é ex-
tremamente dependente do uso de combustíveis fósseis, especialmente gasolina e diesel, sendo um dos setores que mais consomem estes derivados. No ano de 2000, este setor foi responsável por 58% do consumo mundial de petróleo. No Brasil, 50% dos derivados de petróleo (principalmente gasolina e diesel) produzidos são consumidos no setor. Isto mostra que se deve buscar alternativas de energia para os transportes, uma vez que a queima do petróleo gera emissão de GEE que, além de causar as mudanças do clima, apresenta outros impactos ambientais como na qualidade do ar.
Várias foram as estratégias abordadas, no relatório, no capítulo sobre transportes, desde as tecnológicas, como veículos híbridos, biocombustíveis, eficiência energética, materiais leves, entre outras, até alternativas associadas às boas práticas em transportes, como transporte público, transferência modal, gerenciamento da mobilidade, etc.
O interessante é notar que, em um cenário previsto para 2030, não se espera nenhuma nova tecnologia no mercado. Bastaria a implementação das tecnologias comercialmente já disponíveis e a adoção das práticas acima mencionadas, para se ter um nível de emissão de GEE aceitável.
Assim, com o recente reconhecimento do esforço de todos os cientistas envolvidos, através do Prêmio Nobel da Paz, espera-se que haja não apenas um estímulo para a implantação das recomendações citadas no relatório como também maior investimento em pesquisas nas áreas citadas, tanto a partir dos governos como da iniciativa privada.
Foi de extrema importância associar o trabalho do IPCC à paz, pois sinaliza a relevância das mudanças climáticas para a paz mundial. O aquecimento global vai intensificar as desigualdades sociais, penalizando, com maior intensidade, os países e as regiões mais pobres do planeta, provocando um fluxo de refugiados climáticos, aumentado, portanto, as tensões e conflitos nas áreas mais atingidas pela alteração do clima. A gravidade das mudanças climáticas que já podem ser identificadas atualmente, bem como daquelas que podem vir no futuro, se configura como uma ameaça às condições de vida e aos recursos naturais.
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